domingo, agosto 08, 2010

Évora, 7 de Agosto de 2010

Olá meu amor,

Decido escrever-te a carta que nunca escreverei e que tu nunca receberás, mas que ainda assim me preenche o vazio, caindo na ilusão de que escrevo para ti, com a mesma ilusão de que vais receber a carta e ainda com maior ilusão de que me responderás cheia daquele sentimento que se dissipou em ti.

Como estás ai? Os tempos são agora de bonança, após as tempestades que enfrentaste, sei que estás bem, feliz e alegre, e a verdade é que fazes tão bem a ti e aos outros quando estás feliz e alegre, admiro-te por isso.
Aqui a "guerra" vai decorrendo, sempre com a dureza normal, mas vou dando sempre respostas curtas e eficazes, assim tem de ser, esta é para vencer, como costumam dizer naquele desporto que repetes a toda a hora ("não percebo como gostas tanto disso"), tenho que implementar a cultura de vitória.
Tenho andado pela cidade, daqui conhecemos juntos o Menir e os Cromeleques fez agora precisamente dois anos, no caminho para o nosso paraíso, que belo dia. Mas como estava a dizer tenho andado pela cidade, e Sarita, isto tem tanta história, passaríamos semanas e semanas a dar a volta a isto. No domingo passado pus pés a caminho sozinho por estas ruelas, acabei por me perder, quando dou por mim, ups, Templo de Diana e uma vista soberba da planície alentejana. Olhei para o lado para te pedir a máquina ou que tirasses uma foto, ainda me saiu o "S", mas tu não estavas e eu também não tinha a máquina, ficou gravado na memória. Depois, lá pus pés a caminho não sei bem por onde, e dou com uma casa semelhante a uma casa de gnomos, daquelas de filmes animados, no meio de umas árvores esquisitas, tinha assim uma aura mágica, e cá fora uns anúncios: 2ªs, 3ªs e 4ªs meditação orientada, e se já me tinha lembrado de ti mais uma vez lembrei, hei-de ir experimentar.
Bem e o jardim que descobri aqui? Como faz imenso calor aqui, às vezes sabe bem ir para a sombra, tu sabes como é... então encontrei um jardim grande, calmissimo, passei uns momentos sentado, era eu os passáros e as outras pessoas que descansavam por lá, para ler não há sitio melhor. Depois tem um lago, como naquele jardim que fomos uma vez no Campo Grande em que te puseste enrolada na ponte, para te tirarmos uma foto e em que não faltou muito para caíres à água!
Anseio que me venhas visitar, para te dar aquele abraço, aquele beijo, e corrermos os cantos desta cidade, descobrir as histórias e segredos, comentar a beleza e a magia.
Assim me despeço Sara, com amor, saudade e com ilusão de que tudo isto ainda fosse possível para lá da minha fértil imaginação. Pelo menos, enquanto escrevi, acreditei que tudo foi um pesadelo, e que afinal, ainda estás aqui tão perto, no meu peito.
Faz dois anos que chegámos a Moura, ao nosso porto, à nossa casa, e nessa noite meteste dois "carrapitos" como chamámos, passeámos na noite alentejana, tu sorriste, eu sorri, tu estavas feliz, eu estava feliz.
Hoje dois anos depois tu estás feliz, e ainda bem.
Hoje dois anos depois, é tremendamente mais difícil sem ti.
Hoje dois anos depois, eu não estou feliz.

Amo-te Sara.

Sem comentários: