sábado, setembro 25, 2010

Algures, 20 de Setembro de 2010

Princesa,

Neste sitio onde já fomos um e onde agora eu sou apenas um, sento-me, onde já foste rainha, onde eu fui príncipe, onde foste princesa e eu rei, onde renegámos as origens e apenas fomos camponeses, ainda te lembras?
Tu e eu...

"Canção do engate."

Aquelas palavras semelhantes a juras mas que no fundo não eram juras, de que nada nos separaria, não da relação, mas da amizade. Nem mesmo se a fantasia acabasse e a princesa se transforma-se em gata borralheira, ou o príncipe em sapo.
O ingénuo acreditar na falsa verdade dessas juras, graciosas crianças... acreditando no que não tem verdade possível.

"Cada lugar teu."

Agora estou aqui sentado no nosso castelo, onde já fizemos música, onde nos rimos, onde nos amámos, puxando de um termo mais cru.
Espero aqui sozinho que apareças, tapes os meus olhos e tentes que eu descubra quem é. Logicamente para ti não vais aparecer, inesperadamente para mim não irás comparecer ao encontro.

"Primeiro beijo."

Vagueias agora longe, com outro príncipe, rei ou camponês. Sou água de um moinho que já parou, e de um ribeiro que já passou, a ti poderei definir como um ribeiro que secou.
Vou esperando até à exaustão que o ribeiro se encha de novo e eu o possa ver passar com inocente felicidade. A exaustão nunca mais chega, e o ribeiro, esse, não encherá. Resta-me o desespero de saber que aquele ribeiro da minha infância corre agora num canal diferente, sem imaginar no tortuoso pântano em que me tornei.

"Encosta-te a mim."

A esperança funde-se com o desespero, a rejeição, a frustração, a troca, criando um monstro. Monstro que me destrói, esse sim, a levar-me à exaustão, à descrença, à raiva, ao ódio. Num momento de lucidez consigo questionar-me: Porque me acorrentei eu desta forma? Desta triste e vigorosa maneira...

"Problema de Expressão."

Justifico-me acreditando que foi por seres tu, com o teu ar angelical, com esse sorriso lindo de criança menina mulher feliz. Como podias tu ir embora sem deixar a chave? Porto seguro certamente poderia chamar-te, a cavaleira que jamais partiria sem deixar rasto.
Tu partiste, e caramba, nunca eu pensei que o teu rasto me levasse a tal estado de amedrontamento, de dor, de sofrimento e de falta de vontade.

"És tão linda que às vezes dói."

Mero objecto de rejeição, aquele brinquedo que quando crescemos parece já não interessar. Quem sabe se isto não será castigo por aos seis anos ter deixado de brincar com aquele cão que ao apertar fazia sons, optando pela minha nova bicicleta.

"Monotone."

O monstro começa a brincar comigo e faz-me alucinar.
Sabes amor agora estou a ver-te, são reconfortantes esses teus olhos que brilham ao olhar para mim, sentir que ainda acreditas em mim, mesmo quando eu não acredito, sentir esse carinho, tinha saudades, dessa tua força.

"Quando os nossos corpos se separaram."

O monstro enganou-me e eu sei.

"A verdade apanha-se com enganos."

Costumo sentir que o controlo, mas não é verdade, ele controla-me e um dia controlará totalmente, e depois disso não sei como será.
Por agora perco-me olhando o rio seco, esperando que se encha, de novo contigo, água límpida e que outrora apelidei de pura, é o sonhar com o que já não é sonho.
O monstro aperta-me o pescoço, e quebra-me o raciocínio, faz-me sentir dificuldade em respirar, está-me a doer tanto menina.

"Todo o amor do mundo não foi suficiente."

A música continua a tocar por entre os beijos da traição. As pessoas continuam a andar, riem, choram, cantam, gozam. O pavilhão está no mesmo sitio, o mundo mudou pouco, Portugal está no mesmo sitio. Até o senhor dos cachorros com cebola esquisita está ali.

Saudades amor, saudades, de quando eu e tu teríamos mudado o mundo. Sem exaustão.

Um dia vou sufocar, possivelmente.

"Porque me traíste tanto."



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