sexta-feira, junho 17, 2011

quinta-feira, junho 02, 2011

A foto

Se fosse possível... levantava-me, fechava os olhos e corria sem parar para o teu abraço.
Cheio de sangue, que a profunda ferida continua a insistir em deitar para fora. Aquela força que eu não controlo e me controla mas que eu consigo estancar, cheio de ferramentas hilariantes, até para mim.
Mas é segredo, só precisava de "esvaziar" um bocadinho, porque me sinto tão cheio.

terça-feira, janeiro 11, 2011

Porto Côvo


Falo-te sorrindo, de cabeça enfiada na areia recordando os teus pés no céu.
Nós que nos perdemos naquela estrada com destino ao sem destino.
Ontem por mero acaso, deparei-me com o albúm de fotos daquela que foi a última viagem. De resto, foi mesmo o término da nossa viagem.
Não querendo dizer que foi doloroso olhar aquelas imagens diria que foi com pouca falta de dor que as vi, sacando de um doce e delicado masoquimo deleitei-me durante aproximadamente vinte minutos, atento a cada sorriso, a cada olhar, e cada abraço e por fim ao único e último beijo da história.
Poderia não me doer. Sem dúvida.

Mas doeu.




quarta-feira, dezembro 22, 2010

Fla Fla Fla

Menina,


Saudades tuas.
É quando sinto o aperto da tua ausência que tenho de escrever.

Mentiram-me na noite passada e eu cuspi sangue.
Mais tarde vomitei o coração, e senti-me melhor.

A prostituta de pele clara, tocou à campainha às 2 da manhã.
Atendi e disse que não estava.
Afinal não tinha tocado e a minha mãe achou que eu estava doido.

Mas eu acordei e nem a minha mãe estava a falar,
nem ninguém tinha tocado à campainha.

Sabes, não aceito que se defendam com escudo e capacete,
Quando outrora me atacaram a cavalo e de espada da mão.
Adquire, pois, um espécie de realidade, de luta igual...
...onde vamos encontrar ataque e resposta.

Numa cultura de jogo disputado, onde a mentira não tem imperar.
No fim do jogo as partes assumem, ataque e resposta.
Não havendo fair play, há que assumir e com humildade e apertar as mãos.
E no fundo do túnel alguém diz: "de facto não estivemos bem". Assim não se deve jogar.

Numa cultura de aprendizagem as equipas, não soltam a água do capote.
Cada equipa aprenderá com a falta de fair play, melhorando no jogo seguinte.

Mas se ambas adoptassem a teoria da desresponsabilização, então não teriam aprendido nada.

O homem da mercearia obrigou a mulher a tirar a roupa, quando ela não queria.
A minha vizinha do lado esquerdo, bate no marido todas as noites depois de jantar.
A vizinha da frente vai para a cama por obrigação com o marido durante 27.2 segundos. Contei no meu relógio da Casio.

Ontem acordei e vi duas baratas a conspirar, acho que queriam conquistar o mundo.
Mas chegou a super formiga e destruiu esse sonho, acho que já tinha reunido as sete bolas de cristal.

O Paulo chegou com o pão e Amanda disse que não era aquele, no meio da discussão pisaram a super formiga, que não teve tempo de pedir os desejos ao Dragão. Mas como o Dragão já tinha sido invocado sem querer o Paulo no meio da discussão disse: Amanda queria era que desaparecesses. O Dragão ouviu e levou a Amanda, então o Paulo chorou e disse que queria a Amanda de volta e o Dragão ouviu e trouxe a Amanda de volta e com isto dois desejos foram à vida.

A discussão continuou e sem querer a Amanda disse: Quem me dera que cada um desaparecesse para seu lado. O Dragão ouviu e fez desaparecer o Paulo e a Amanda, cada um para seu lado.

Grande bronca, três desejos gastos.

Mas afinal a super formiga não tinha morrido, estava só desmaiada por causa de uma quebra de tensão. E quando acordou o mundo que era a casa do Paulo e da Amanda agora era seu, tendo ainda como prisioneiros as duas baratas, com quem festejou a sua eleição.

A super formiga era por isso a senhora do mundo.

Se hoje não fosse agora. Se calhar era porque tinha sido ontem, ou então era amanhã.

sábado, setembro 25, 2010

Algures, 20 de Setembro de 2010

Princesa,

Neste sitio onde já fomos um e onde agora eu sou apenas um, sento-me, onde já foste rainha, onde eu fui príncipe, onde foste princesa e eu rei, onde renegámos as origens e apenas fomos camponeses, ainda te lembras?
Tu e eu...

"Canção do engate."

Aquelas palavras semelhantes a juras mas que no fundo não eram juras, de que nada nos separaria, não da relação, mas da amizade. Nem mesmo se a fantasia acabasse e a princesa se transforma-se em gata borralheira, ou o príncipe em sapo.
O ingénuo acreditar na falsa verdade dessas juras, graciosas crianças... acreditando no que não tem verdade possível.

"Cada lugar teu."

Agora estou aqui sentado no nosso castelo, onde já fizemos música, onde nos rimos, onde nos amámos, puxando de um termo mais cru.
Espero aqui sozinho que apareças, tapes os meus olhos e tentes que eu descubra quem é. Logicamente para ti não vais aparecer, inesperadamente para mim não irás comparecer ao encontro.

"Primeiro beijo."

Vagueias agora longe, com outro príncipe, rei ou camponês. Sou água de um moinho que já parou, e de um ribeiro que já passou, a ti poderei definir como um ribeiro que secou.
Vou esperando até à exaustão que o ribeiro se encha de novo e eu o possa ver passar com inocente felicidade. A exaustão nunca mais chega, e o ribeiro, esse, não encherá. Resta-me o desespero de saber que aquele ribeiro da minha infância corre agora num canal diferente, sem imaginar no tortuoso pântano em que me tornei.

"Encosta-te a mim."

A esperança funde-se com o desespero, a rejeição, a frustração, a troca, criando um monstro. Monstro que me destrói, esse sim, a levar-me à exaustão, à descrença, à raiva, ao ódio. Num momento de lucidez consigo questionar-me: Porque me acorrentei eu desta forma? Desta triste e vigorosa maneira...

"Problema de Expressão."

Justifico-me acreditando que foi por seres tu, com o teu ar angelical, com esse sorriso lindo de criança menina mulher feliz. Como podias tu ir embora sem deixar a chave? Porto seguro certamente poderia chamar-te, a cavaleira que jamais partiria sem deixar rasto.
Tu partiste, e caramba, nunca eu pensei que o teu rasto me levasse a tal estado de amedrontamento, de dor, de sofrimento e de falta de vontade.

"És tão linda que às vezes dói."

Mero objecto de rejeição, aquele brinquedo que quando crescemos parece já não interessar. Quem sabe se isto não será castigo por aos seis anos ter deixado de brincar com aquele cão que ao apertar fazia sons, optando pela minha nova bicicleta.

"Monotone."

O monstro começa a brincar comigo e faz-me alucinar.
Sabes amor agora estou a ver-te, são reconfortantes esses teus olhos que brilham ao olhar para mim, sentir que ainda acreditas em mim, mesmo quando eu não acredito, sentir esse carinho, tinha saudades, dessa tua força.

"Quando os nossos corpos se separaram."

O monstro enganou-me e eu sei.

"A verdade apanha-se com enganos."

Costumo sentir que o controlo, mas não é verdade, ele controla-me e um dia controlará totalmente, e depois disso não sei como será.
Por agora perco-me olhando o rio seco, esperando que se encha, de novo contigo, água límpida e que outrora apelidei de pura, é o sonhar com o que já não é sonho.
O monstro aperta-me o pescoço, e quebra-me o raciocínio, faz-me sentir dificuldade em respirar, está-me a doer tanto menina.

"Todo o amor do mundo não foi suficiente."

A música continua a tocar por entre os beijos da traição. As pessoas continuam a andar, riem, choram, cantam, gozam. O pavilhão está no mesmo sitio, o mundo mudou pouco, Portugal está no mesmo sitio. Até o senhor dos cachorros com cebola esquisita está ali.

Saudades amor, saudades, de quando eu e tu teríamos mudado o mundo. Sem exaustão.

Um dia vou sufocar, possivelmente.

"Porque me traíste tanto."



segunda-feira, setembro 06, 2010

Évora, 6 de Setembro de 2010

Pétalas de rosa encharcadas de sangue, deu-se um crime na noite passada, crime de contornos arrepiantes. A princesa matou o amor imortal de seu príncipe, seu não, porque para ela não era seu, mas para ele era sua. As pétalas que serviam para purificar a alma, serviram então de colchão para que a princesa e seu amante pudessem ali desfrutar de uma noite de sexo, sobre o sangue azul do princípe que agora não tem outra cor a não ser o negro.
Sua alma percorre agora os caminhos do mundo, afinal não morreu, jurou vingança, mas não se quer vingar.
A princesa chora.
O amante violou-a.
A princesa consentiu.
A princesa gostou.
A princesa pediu mais.
O amante bateu-lhe.
A princesa chorou de novo.
Alguém que tire a faca das costas do príncipe.
O príncipe percebe que não precisa de ajuda.
O príncipe tira a puta da faca das costas.
O príncipe grita por revolta.
O príncipe manda os sentimentos à merda.
O príncipe pontapeia o amor.
O príncipe não acredita em nada.
O príncipe segura a faca e espeta no coração.
Assim o príncipe matou a princesa, que não existia, a não ser no interior do seu peito, alimentada por um amor que outrora não mais se viu.

domingo, agosto 08, 2010

Évora, 7 de Agosto de 2010

Olá meu amor,

Decido escrever-te a carta que nunca escreverei e que tu nunca receberás, mas que ainda assim me preenche o vazio, caindo na ilusão de que escrevo para ti, com a mesma ilusão de que vais receber a carta e ainda com maior ilusão de que me responderás cheia daquele sentimento que se dissipou em ti.

Como estás ai? Os tempos são agora de bonança, após as tempestades que enfrentaste, sei que estás bem, feliz e alegre, e a verdade é que fazes tão bem a ti e aos outros quando estás feliz e alegre, admiro-te por isso.
Aqui a "guerra" vai decorrendo, sempre com a dureza normal, mas vou dando sempre respostas curtas e eficazes, assim tem de ser, esta é para vencer, como costumam dizer naquele desporto que repetes a toda a hora ("não percebo como gostas tanto disso"), tenho que implementar a cultura de vitória.
Tenho andado pela cidade, daqui conhecemos juntos o Menir e os Cromeleques fez agora precisamente dois anos, no caminho para o nosso paraíso, que belo dia. Mas como estava a dizer tenho andado pela cidade, e Sarita, isto tem tanta história, passaríamos semanas e semanas a dar a volta a isto. No domingo passado pus pés a caminho sozinho por estas ruelas, acabei por me perder, quando dou por mim, ups, Templo de Diana e uma vista soberba da planície alentejana. Olhei para o lado para te pedir a máquina ou que tirasses uma foto, ainda me saiu o "S", mas tu não estavas e eu também não tinha a máquina, ficou gravado na memória. Depois, lá pus pés a caminho não sei bem por onde, e dou com uma casa semelhante a uma casa de gnomos, daquelas de filmes animados, no meio de umas árvores esquisitas, tinha assim uma aura mágica, e cá fora uns anúncios: 2ªs, 3ªs e 4ªs meditação orientada, e se já me tinha lembrado de ti mais uma vez lembrei, hei-de ir experimentar.
Bem e o jardim que descobri aqui? Como faz imenso calor aqui, às vezes sabe bem ir para a sombra, tu sabes como é... então encontrei um jardim grande, calmissimo, passei uns momentos sentado, era eu os passáros e as outras pessoas que descansavam por lá, para ler não há sitio melhor. Depois tem um lago, como naquele jardim que fomos uma vez no Campo Grande em que te puseste enrolada na ponte, para te tirarmos uma foto e em que não faltou muito para caíres à água!
Anseio que me venhas visitar, para te dar aquele abraço, aquele beijo, e corrermos os cantos desta cidade, descobrir as histórias e segredos, comentar a beleza e a magia.
Assim me despeço Sara, com amor, saudade e com ilusão de que tudo isto ainda fosse possível para lá da minha fértil imaginação. Pelo menos, enquanto escrevi, acreditei que tudo foi um pesadelo, e que afinal, ainda estás aqui tão perto, no meu peito.
Faz dois anos que chegámos a Moura, ao nosso porto, à nossa casa, e nessa noite meteste dois "carrapitos" como chamámos, passeámos na noite alentejana, tu sorriste, eu sorri, tu estavas feliz, eu estava feliz.
Hoje dois anos depois tu estás feliz, e ainda bem.
Hoje dois anos depois, é tremendamente mais difícil sem ti.
Hoje dois anos depois, eu não estou feliz.

Amo-te Sara.